1.
QUANDO SENTI A PRIMEIRA CONTRAÇÃO, TUDO MUDOU.
No dia 03/06/2014, às 9h30min eu fui à última consulta com a obstetra que me acompanhou nas ultimas semanas da gestação do Rafa. Estava com dois dedos de dilatação, Rafael encaixadinho, pronto para nascer. 39 semanas completas. Sai do consultório, acompanhada do meu marido e fomos dar uma caminhada no shopping. Dizem que caminhar acelera o parto, então La fui eu. Redonda como eu estava, qualquer voltinha já me deixava cansada.
Caminhamos uns 40 minutos, almoçamos e fomos para casa. Tirei um cochilo e as 17h30min sai para a aula de pilates. No final da aula, quando me levantei da bola senti algo molhado.
Pensei: Fiz xixi. Fui ao banheiro, quando me abaixei para sentar no vaso, parecia uma cena de cinema: senti aquele monte de água escorrendo pelo meio das minhas pernas, molhando o chão. Sai do banheiro e disse ao professor que precisava ir embora. Quando entrei no carro, olhei para meu marido e falei: Acho que minha bolsa rompeu. Ele arregalou os olhos e ficou todo nervoso. Eu estava ansiosa, mas calma, porque não sentia dor.
Liguei para minha obstetra e ela me orientou a ir logo para o hospital. Perguntei se poderia ir em casa antes, tomar um banho, estava suada da aula de pilates. Ela me orientou a não demorar mais do que uma hora e então ir para o hospital. Cheguei em casa, tomei banho, peguei a malinha da maternidade e parti para o hospital. Era um dia frio, terça-feira. Até
então, tudo tranquilo.
As 19h20 min, quando entrei no carro, senti a primeira contração, foi quando tudo mudou. As contrações estavam vindo de minuto em minuto. Não consigo mensurar aqui a dor, pois nunca senti nada parecido. Percebi que a respiração me ajudava a controlar a ansiedade e até mesmo a dor. Mas quando você sente dor por um bom tempo, é preciso muito treino e apoio para conseguir dar conta da dor e do medo.
2.
NÃO SUPORTO MAIS A DOR, PODE ME ABRIR
FOI A TRANQUILIDADE DELA QUE ME DEU SEGURANÇA
Chegamos logo no hospital. Ofereceram-me uma cadeira de rodas, mas eu disse que ainda conseguia caminhar. Logo me colocaram para dentro de uma sala e meu marido não pode entrar. Disseram que precisaria esperar alguns procedimentos. Sozinha, assustada, com muita dor eu não sabia o que fazer. Minha carteira de gestante tinha o número 4, que simbolizava as 4 fertilizações realizadas. As enfermeiras entendiam que aquele era meu 4º filho e, mesmo eu explicando que era o primeiro, pareciam se apressar para fazer tudo rápido antes que o bebe nascesse. Fiz então uma lavagem intestinal e me conectaram a milhares de fios e eletrodos que monitoravam os batimentos cardíacos do bebê e as minhas contrações. Às 21h da noite a minha obstetra chegou. Uma hora e meia depois de eu ter dado entrada no hospital. Eu estava sozinha na sala, ela me olhou e disse: “nossa, parece que você está com dor.” As contrações já estavam de 40 em 40 segundos, cinco dedos de dilatação. Olhei para ela e disse: “não suporto mais a dor, pode me abrir.” Ela tranquilamente me disse, calma, vou pedir para seu marido entrar e logo vamos ver a analgesia, vai dar tudo certo. Foi a tranquilidade dela que me deu segurança no meio de tanto medo.
Meu marido entrou no quarto comigo e ficamos juntos. Às 22h o anestesista chegou. Com contrações de 40 em 40 segundos eu estava exausta. A sensação depois de analgesia é tão indescritível quanto a dor das contrações. Parecia que eu tinha entrado no céu. Sentia toda a pressão da contração, mas não sentia absolutamente nada de dor. Lembro de ter brincado com a médica dizendo que gostaria de levar umas doses pra casa.
Entre 22h e 23h ficamos tranquilos no quarto, eu e meu marido. Sem dor, eu fiquei deitada assistindo televisão. As 23h a dor retornou. Pedi à médica que me desse mais uma dose de analgesia, mas, após medir a dilatação, ela me disse que não poderia dar mais uma dose porque eu já estava com 10 dedos de dilatação e precisava de força para expulsar o bebê.
Lembro-me das palavras dela: “Agora vai ser rápido, aposto que nasce hoje ainda.”
3.
HOJE, ESSE É O MEU MAIOR REMORSO
Fui transferida para a sala de parto então. Uma sala muito iluminada, repleta de refletores. Fui colocada em posição ginecológica e ali começou a parte mais difícil do meu parto. A cada contração eu sentia que minhas forças se esvaiam. O intervalo entre uma contração e outra não era suficiente para recuperar o fôlego e fazer força de novo. Por cerca de 30 minutos eu escutei a médica me dizer que faltava só um pouquinho, ela já estava vendo os cabelinhos do bebê. Entre uma contração e outra eu só chorava e dizia que não queria mais, que a médica podia me abrir e tirar o bebê. Durante todo o processo, minha obstetra manteve o mesmo tom de voz tranquilo, me dizendo que tudo ia dar certo. Para ajudar no parto, ela fez a episio e a anestesista subia na minha barriga para aumentar a pressão, forçando a saída o bebê. Durante 1h15min eu não acreditei em mim. Pensava que não seria capaz de cumprir a tarefa de parir meu filho. Com ajuda do fórceps (que eu pensava nem ser usado mais) Rafael nasceu as 00h15min do dia 04/06/2014 com muita saúde.
Antes de me tornar mãe efetivamente eu não tinha ideia do que acontece com o bebê nessas primeiras horas de vida fora da barriga. Mas a forma como Rafael reagiu a tudo que aconteceu na hora seguinte ao seu nascimento me fez refletir sobre isso. Esse foi o primeiro momento da minha jornada como mãe, desconectada de tudo e todos, que senti que havia algo errado, mas não sabia explicar o que.
Logo que nasceu, Rafael foi para as mãos da pediatra, que o levou para os exames e teste de apgar. Após ser enrolado em uma manta, com uma touca na cabeça pude ver meu filho. Ele nasceu com a cabeça em formato de cone, devido ao parto normal, e isso me assustou um pouco, apensar da médica dizer que estava tudo bem. Eu vi Rafael de relance e logo ele foi levado para a sala onde teria seu primeiro banho. Pedi que meu marido fosse com ele, que não o deixasse sozinho. Muito antes que eu pudesse ter meu filho no colo, várias pessoas o pegaram. Somente cerca de uma hora e meia depois do meu parto voltei a ver Rafael. No dia, nada disso fez sentido pra mim. Hoje, esse é meu maior remorso, mas isso é assunto para outro texto.
4. O QUE APRENDI COM O MEU PARTO?
Após Rafael nascer, minutos depois voltei a sentir contrações. Assustada olhei para a médica e falei pra ela que estava sentindo dor novamente. Ela, com a mesma calma de sempre, me disse: “é a placenta, precisa expulsar.” “Não dá pra puxar?”, perguntei. Não, ela me disse, você precisa expulsar. Levei cerca de 15 minutos ainda para eliminar a placenta. Fiquei bastante zonza, perdi muito sangue. Com a orientação de ser monitorada a casa 30 minutos, fui levada para o quarto.
O que eu aprendi com o meu parto? Que se você nunca pariu, até vivenciar será impossível de imaginar e dimensionar o que você irá sentir. É um misto de emoções, que para mim variavam entre medo, angustia, dor, vergonha. A equipe do hospital foi incrível comigo, mas quero deixar meu relato que eles fizeram a parte técnica com excelência. Não houve nenhum tipo de preocupação com o emocional, nem meu, nem do meu filho. Com exceção da minha médica, a quem serei eternamente grata. Foi a sua voz calma, sua tranquilidade ao meu lado dizendo que tudo iria ficar bem, sua decência em conduzir um parto normal mesmo percebendo que eu estava assustada e desejava parar aquilo tudo logo. Você precisa encontrar um médico em quem confiar quando a coisa ficar difícil, porque em algum momento pode ficar. Sou grata por ter tido essa pessoa na minha jornada.
Aprendi que é necessário buscar informações, antes do parto, sobre todas as possibilidades e quais os tipos de parto que existem, suas diferenças e filosofias. Não defendo nenhum deles, mas defendo que as mulheres tenham acesso a essa informação e liberdade para escolher o que farão com seus corpos.
Tudo o que eu imaginei não chegou nem perto do que vivi na noite do dia 03 e madrugada do dia 04/06/2014. Após 6 horas de trabalho de parto, meu filho nasceu virando meu mundo de cabeça pra baixo.
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